Os meus seus nossos espinhos da vida
Recentemente assisti a uma reportagem que mostrava o comportamento social dos porcos-espinhos, durante o inverno esses animais se aproximam uns dos outros para se aquecerem, eles se aglomeram em grupos ou famílias e o calor gerado por essa proximidade promovia um ambiente mais quente, permitindo que enfrentem o rigor do inverno com mais facilidade.
Mas aí surge o problema, pois o que eles mais têm são espinhos, a proximidade entre eles causa desconforto e os atritos geram incômodo, alguns grunhidos e rosnados pareciam dizer “fique perto, mas não tanto assim”, ainda assim, mesmo com algumas roçadas mais dolorosas, nenhum deles abandonava o grupo, ninguém saía em debandada e claro que havia momentos desconfortáveis, mas o calor coletivo compensava o incômodo.
A percepção que fica é que é melhor manter alguma distância e ainda assim contar com o calor dos outros, do que ficar sozinho e passar frio, em síntese é aquela máxima de que é ruim com e pode ser pior sem.
Precisamos aprender com esses animais e com o ensinamento dessa experiência, de que desentendimentos, enroscos e atritos sempre farão parte dos relacionamentos, sejam em família, no trabalho, entre amigos ou em qualquer grupo, ainda assim a convivência, mesmo com suas dificuldades é quase sempre melhor do que o isolamento.
É necessário aprender a conviver com nossos semelhantes, aceitar as diferenças e buscar compreendê-los, precisamos usar menos os nossos espinhos para ferir e mais a nossa presença para acolher, desta forma quando o sol voltar a brilhar, poderemos desfrutar do prazer de viver em grupo, com todas as suas dificuldades pertinentes em um convívio, almejando cultivar a harmonia.
Segundo a ciência nós temos uma necessidade natural de viver em grupos, no entanto somos criados como indivíduos únicos, com identidades e personalidades próprias, em muitas situações essa individualidade em vez de contribuir positivamente, acaba gerando mais conflitos do que harmonia, vivemos em um mundo que constantemente nos cobra evolução e melhoria pessoal, mas paradoxalmente parece que estamos tornando tudo mais complicado, denso e cheio de barreiras, a convivência vai ficando mais difícil e não é por falta de capacidade, mas pelo excesso de exigências e pela crescente intolerância às diferenças.
A verdade é que toda vez que nos isolamos de algo ou de alguém, também reduzimos nossas chances de crescimento, quanto menos temos à disposição, menores são as possibilidades de escolha e aprendizado, eliminar alternativas é limitar-se, é assumir equivocadamente que não há valor nos atritos ou nas divergências, na realidade muitas vezes isso revela apenas o medo de encarar opiniões diferentes das nossas.
A convivência nunca é simples de administrar, mas a vida não precisa ser um jogo de perdas, é possível construir relações em que todos conquistam aprendizado e crescimento, sempre com muita paciência, harmonia e empatia, poderemos superar barreiras que embora desnecessárias, ainda insistem em existir, basta disposição para enxergar o outro não como um adversário, mas como parte do caminho.
Paulo C. Andrighe
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