Política brasileira versão Games of Thrones II

O que faz Games of Thrones ser um sucesso e representar tanto os dias atuais? É que para ser exatamente a nossa realidade como sociedade e ambiente político, transportando o enredo para o agora, só fica faltando os Caminhantes Brancos, os mortos vivos que vêm do norte de Westeros, porque de resto aqui em terras tupiniquins se tem excelentes representantes muito bem vívidos para criar absurdos e exageros na busca do domínio das massas que só servem para gerar tributos.

No transcorrer das temporadas se viu como a conquista do poder era um objetivo único para todos, os que estavam rodeando o trono se digladiavam para assim se manter, os bons corações que chegaram próximos ou que sentaram no trono de ferro corromperam-se e pegaram gosto por lamber o sangue entre os dedos, escalar os degraus do poder provocava um gosto especial pela violência. Mas será que naturalmente ser humano guarda em sua essência esta associação que poder em mãos é porta para gerar violência e dor?

A perda que mais pesou nos primeiros episódios foi a morte injusta do iluminado Ned Stark, a comoção foi fato e sem fundamento de um suposto quem sabe protagonista da série perder a cabeça com uma acusação de traição, quando a Mão do Rei, descobre que a dívida pública está impagável, os gastos estão fora de controle e empréstimos com outros reinos servem somente para construir exércitos para novas conquistas, é quase que uma visão dos tempos atuais em que governos rasgam tiras de couro do lombo da população com mais impostos e estes numa enchem seus cofres imperialistas, eles festejam com a propaganda de que a nação é forte e pujante quando na verdade está empobrecida e acostumada com o pão amanhecido e o circo sem graça que recebe.

Entre as interpretações que merecem destaque está na busca pelo personagem referência, que não necessariamente foi um homem ou mulher com mais de meia idade, com rosto agradável e aspecto intelectual que possa representar o conhecimento e a dignidade moral, esta pessoa está muito bem pintada por um anão, mulherengo, costumeiramente bêbado, um nobre banalizado pela maioria, Tyrion Lannister tem falas memoráveis com um sarcasmo digno de um palhaço da corte, um estrategista esperto e grande pensador, é estranho pensar que o autor atribuiu tamanha destreza e astúcia a um personagem tão exótico.

Uma das grandes evidencias que podemos extrair de todo o enredo, é que quando um único governante se perpetua torna-se ruim para a evolução social, que as culturas políticas, onde não existe renovação de pensamentos perde a possibilidade de maturar-se e a estagnação ditatorial torna-se um porto seguro a ser cultivado. Governos que não se renovam atendem mais a seus caprichos e interesses de seus ditadores, dispensando a necessidade de contribuir com o desenvolvimento social da população, onde apenas uma pequena casta bajuladora realmente é beneficiada.

As referências históricas dos estandartes ou bandeiras dos sete reinos é um dos fatores mais importantes que nossa cultura atual perdeu, atualmente não se cultua a ferro e fogo nossas bandeiras, não com a importância como é mostrada na série, de o quanto afirmar ser de um dos 7 reinos fazia diferença ao se posicionar diante de fatos, as casas ou clãs eram defendidos com sangue, o formato de sociedade individualista e sem respeitar referências históricas nos fez perder a relevância de fazer parte de organismos maiores, um exemplo é que nem nosso próprio sobrenome é tratado com peso histórico.

Games of Thrones foi um divisor de águas na literatura e no cinema, poderíamos aprender mais com a dedicação do autor George R. R. Martin, agir mais como Tyrion e muito menos como Cersei, porque se não aproveitarmos todo este conhecimento, no final seremos apenas Caminhantes Brancos sem destino e com único objetivo de ir para o sul.

Paulo C. Andrighe

Sou um admirador das letras, da literatura e me apropriando da canção Aquarela, interpretada por Toquinho, onde com um lápis, um papel e muita simplicidade, tudo é possível com a imaginação.

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