Qual é o lobo que você está alimentando?

Existe uma historinha muito utilizada para provocar reflexão principalmente entre os mais pequenos, um conto popular que relata o diálogo entre um menino e seu avô, onde este pequeno com lágrimas nos olhos fala sobre sua angústia e raiva pela injustiça provocada a ele por outro garotinho, de como estava chateado e inconformado pela atitude daquele que ele achava ser seu amigo, não entendia porque havia lhe provocado tamanho desconforto.

Seu avô na busca de aliviar seu coração entristecido, conta que todos vivenciam estas adversidades e momentos de sentimentos ruins, que dentro das pessoas existem dois lobos sendo um deles bom e que busca insistentemente cuidar e nunca magoar as pessoas, preza pela harmonia e almeja sempre construir relacionamentos saudáveis, que somente mostra os dentes com brutalidade quando é necessário a força para mostrar o rumo correto das coisas, mas claro, existe o outro lobo, amargurado, angustiado e cheio de ódio, que por pequenas coisas e sem motivos mostra sua braveza e dentes, para ele todas as pessoas são uma ameaça, rosnar, gritar e brigar é a única solução para tudo.

Seu avô enfatizou que todos temos estes dois lobos dentro do coração, que eles lutam constantemente buscando sempre vencer e dominar seu oponente dentro de nossa alma, que se faz necessário conviver com estas duas feras e que precisamos dominar estes dois sentimentos.
Com os olhos cheios de expectativas o pequeno garoto questionou, “nesta luta entre os dois lobos vovô, qual deles vence?”, com uma voz serena e cheia de atenção a resposta foi “entre estas duas feras, aquele que vencer esta luta será o lobo que eu mais alimentar”.

Se o bem e o mal que cultivamos dentro da alma se mostrem como dois lobos, anjos e diabinhos ou uma moeda com seus dois lados, é indiferente a figura decorativa, a questão é que sempre teremos opções para direcionarmos nosso livre arbítrio e estas alternativas vão gerar impactos positivos e negativos em nós e naqueles que estão a nossa volta, é necessário é ter discernimento para sempre evitar alimentar o lobo errado.

Não é confortável perdoar quem nos magoa, não se deve guardar sentimentos ruins por outras pessoas, falar é fácil, mas é difícil administrar estes sentimentos ruins, falar que está tudo perdoado e esquecer estes desconfortos é muito simples, é só afirmar que aquele que provocou um prejuízo está morto e enterrado no passado, complexo é enfiar esta dor em uma gaveta, chavear e jogar a chave fora, remover este lobo raivoso se faz necessário, antes que ele ganhe o nome de Gastrite e se torne um integrante familiar muito próximo.

Alimentar este lobo ruim, é tratar um sentimento que na maioria das vezes somente existe para aquele que zela por esta dor, pois pode acontecer da outra pessoa nem saber que existe alguém que foi prejudicado, pode ser que este nem saiba que fez parte de um dano prejudicial para outros, as vezes a dor é somente daquele que se sente magoado e este lobo amargo é somente dele.

Sentimentos ruins corroem a alma e alimentar este lobo é cultivar um veneno que nunca chegará no seu destino, ele ficará contagiando a alma daquele que o alimenta, com pequenas doses para que nunca se desapegue de um rancor que só existe no coração de quem tem apego a este lobo, desapegar deste animal de estimação é ter consciência das fraquezas que se tem e que evoluir é uma necessidade.

Figurativo ou não, o ato de esconder certas angústias em um armário, trancar e jogar a chave fora é um movimento de libertação, é uma obrigação alimentar inúmeros lobos bons, desta forma se proteger e ficar blindado dos infortúnios alheios que insistem em nos rodear.

Paulo C. Andrighe

Sou um admirador das letras, da literatura e me apropriando da canção Aquarela, interpretada por Toquinho, onde com um lápis, um papel e muita simplicidade, tudo é possível com a imaginação.

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