Cada louco com as suas loucuras
Eu tenho minhas manias e você tem as suas, todos carregamos alguma peculiaridade que nos torna únicos, mas tem alguns que vão além e são mais estranhos ou para romantizar, alguns são excêntricos, tudo bem, cada louco convive com suas loucuras, o verdadeiro problema está em julgar as esquisitices dos outros sem perceber as próprias, esquecendo que todos temos telhado de vidro.
Em uma conversa com a Natalia, que atua como administradora financeira, um ambiente que promove altos índices de estresse e propenso ao burnout, a parte boa é que ela foge completamente ao padrão e mantém um semblante tranquilo, fala com uma serenidade admirável e possui uma entonação de voz muito suave que, mesmo ao dar uma bronca, provavelmente soaria acolhedora. É certo que no dia em que nasceu, passou várias vezes pela fila da calma e da gentileza, foi então que a Nati relatou que sua mania é de que duas vezes por semana, acorda às quatro da manhã para conversar com Deus.
– Ooooooiiiiiii? Como assim? Quase duas horas num monólogo, conversando com o silêncio do além?
Segundo ela, é no silêncio da madrugada que suas conversas ganham profundidade e clareza, nesse momento que encontra a tranquilidade, orientação e as respostas de que precisa, é no silêncio do amanhecer que seus propósitos ganham coragem e confiança.
Cada um carrega suas próprias loucuras, algumas leves e até saudáveis, outras pesadas e difíceis de administrar, fato é que todas as manias são bipolares, pois carregam virtudes e tormentos.
Alguns têm mania de limpeza, mas o perfeccionismo em exagero vira castigo, quem coleciona coisas desperta curiosidade, embora o acúmulo possa se transformar em um fardo pesado, há quem roa as unhas e outros que mordem o canto da boca, outros carregam trocentos remédios para qualquer eventualidade e tem aqueles que não conseguem manter nada em ordem, outros têm a mania estranha de roubar pequenas coisas e no fim, cada um administra como pode suas próprias excentricidades humanas.
Alguns têm mania de grandeza, enquanto outros carecem até da mania de gostar de si mesmos, tem gente que tem o hábito de falar mal dos outros, alguns fantasiam de tudo e gostam de mentir suas façanhas, às vezes pequenas manias crescem, ganham força, viram hábitos e um transtorno compulsivo começa ganhar relevância.
Há também manias que atrapalham a vida a dois, hábitos complicados que dificultam os relacionamentos em família, alguns destes desfazem amizades e outros alimentam a intolerância, o complexo é que muitos não percebem que certas manias não são frescura ou falta do que fazer, em alguns casos são transtornos difíceis de serem derrotados, são batalhas que sem ajuda não são vencidas.
Todos nós temos hábitos estranhos ou manias bobas que insistimos em manter, curiosamente, as manias alheias sempre nos parecem mais absurdas do que as nossas, por instinto de autopreservação, somos naturalmente tolerantes com nossas próprias excentricidades, porém, a pergunta que precisa ser feita é sobre quais das nossas manias, quando vistas pelos olhos dos outros, parece coisa de quem tem “um parafuso a menos”?
E se temos manias é quase certo que as herdamos ou aprendemos com alguém, assim como também deixamos algumas bobagens espalhadas por aí e tomara que aquilo que transmitimos seja algo bom e útil.
Depois de conhecer a Nati, acho interessante adotar mais essa “mania” estranha, se é relevante para ela, é certeza que irá agregar para muitos e o que é mais um habito somando aos tantos outros que já administramos no dia a dia, mas por enquanto é melhor começar devagar, talvez com alguns minutos de conversa com o Criador logo ao acordar pela manhã, porque ainda é preciso ganhar intimidade suficiente para sustentar um diálogo com duas horas de duração.
Paulo C. Andrighe



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