Coisas mágicas mas que são proibidas
A cena mostrava um garotinho de cerca de dois anos, cheio de energia, alegria e graciosidade, corria com visível saúde e vitalidade, irradiando vida enquanto distribuía sorrisos e amistosidade, em dado momento aproximou-se de uma senhora que pelo modo como a abordou parecia ser sua mãe, eles trocaram olhares e era certo que um diálogo sem tamanho estava acontecendo naquele instante, pronunciou a palavra “mama” e ela que estava sentada, inclinou-se suavemente para frente, com naturalidade descobriu parte do seio, abraçando este pequeno anjo com seus braços, com suas mãozinhas delicadas ele segurou e fez o que precisava ser feito, saciar sua fome.
Foi uma cena mágica e de uma grandiosidade que só poderia ter sido concebida pelo Criador, com incomparável sensibilidade, um gesto simples, mas carregado de um valor imensurável.
Eu queria poder ficar ali apenas admirando, mas o peso do tabu ainda fala mais alto, tive vontade de parabenizá-la por aquele gesto tão genuíno de maternidade, pois ela estava inteiramente focada em seu filho, como deve ser, a cena carregava uma beleza tão profunda que palavras jamais seriam capazes de traduzi-la por completo.
Ela amamentou seu filho, oferecendo-lhe aquilo que tinha de mais puro e sagrado, fez isso ali mesmo, em público, com serenidade e foco absoluto no pequeno em seus braços, o mundo ao redor simplesmente deixava de existir, tive vontade de lhe dizer o quanto era iluminado a grandeza daquele ato e que somente o feminino têm a graça divina de nutrir a vida dessa forma, um dom concedido pelo Criador de tudo.
Fiquei imaginando uma leoa firme e destemida, amamentando sua cria enquanto ruge com toda a força para um leão muito maior que ela, que ousa ameaçar seu filhote, desejei naquele instante que essa cena se repetisse para todas as mães que um dia se sentiram acuadas, que nenhuma delas jamais precise se esconder atrás de um pilar ou se encolher num canto, voltada para a parede para fazer algo tão natural, sagrado e poderoso quanto alimentar seu filho.
É triste perceber como o mundo acabou confundindo as coisas, a verdade é que o aleitamento materno não tem nenhuma conotação sexual, trata-se de um ato de amor e cuidado, considerando que alguns tem olhares com sentido erótico para pés, pescoço, boca e até para a barriga e nem por isso estas partes do corpo deixaram de serem mostrados em público, a confusão já está feita e a solução não é simples, mas chega a ser absurdo que por conta disso uma mãe precise se esconder para atender às necessidades básicas de seu bebê.
Inclusive, como eu gostaria de poder amamentar e quando me sentisse ameaçado, quando tentassem tirar do meu bebê o direito de se alimentar onde, quanto e quando precisasse, de poder rugir alto, quebrar o silêncio e fazer barulho, mostrar sem medo o animal feroz que desperta quando sua cria está em perigo e depois, com calma apenas dizer “tudo bem, é que alguém ameaçou o bem-estar da minha cria.”
Como eu queria de verdade poder encenar essa cena e com tranquilidade no final, resumir tudo com um simples “Só fiquei com medo”, mas dentro de mim saber que a resposta foi muito maior do que a ameaça do simplesmente ter olhado com malicia ou maldade para minha cria, só existem leoas acuadas porque elas têm medo de rugir, deveria ser uma obrigação avisar aos desavisados que se a vara é curta o melhor é não cutucar.
A amamentação tem uma importância vital, mas acaba ganhando o rótulo de algo quase proibido, como se de alguma forma representasse uma ameaça aos outros, é confuso perceber que aquilo que é certo recebe reprimendas como se fosse errado, considerando que a maldade não está no ato em si, mas sim nos olhos distorcidos e maliciosos que enxergam com perversão o que na verdade é um gesto de amor.
Paulo C. Andrighe
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