Discurso do politicamente correto pra inglês ver

E como é louvável uma fala cheia de etiqueta e com postura de quem só faz a coisa certinha frente aos olhos céticos e críticos da sociedade, ao estilo de nem um grãozinho de arroz cai do prato na hora da refeição.

Sabe aquela foto na balada com várias pessoas, com seus sorrisos largos e clima de felicidade eterna, ainda bem que não existe um aplicativo que leia pensamentos para mostrar o que gira nos bastidores.

No trânsito estas pessoas sempre sinalizam a seta e são solidários a outros, mas com os vidros fechado falam palavrão e classificam todos como inferiores.

Estes nunca jogam lixo no chão porque é feio, mas em casa juntam tudo no mesmo saco de lixo e tanto faz se é orgânico ou reciclável porque vai tudo para o lixo mesmo, vai tudo embolado entre papelão e o rato morto que apareceu no quintal.

São moralmente corretos quanto a suas opiniões sobre outros, mas gostam de fofoquinhas e dar aquela alfinetada básica, porque como se sabe não faz mal. Quando cruzam com mendigos pelas ruas fazem que não viram o pedido de ajuda porque o disfarce do olhando para o nada dispensa estes seres invisíveis. Na mesa farta do jantar em família é tudo perfeito, mas o porém está nas críticas ardidas que ocorrem em aplicativos de bate papo.

Sejamos claros, o importante é mostrar a imagem perfeita para ser percebido por outros e necessariamente que a foto fique boa, com um sorriso largo e sempre no melhor perfil do rosto pois é ela que será percebida pela opinião alheia, já que nas redes sociais são os likes que contam.

É só para impressionar mesmo pois o efeito dura pouco.

E assim a vida vai passando sempre frágil e sem sal, mas já está na hora de alimentar o ego com mais um momento impressionante para inglês ver, criar mais um momento de existência em que o mundo externo perceba, o problema é que dura pouco essa percepção externa pois as máscaras precisam ser trocadas.

A expressão “pra inglês ver” vem da época da abolição da escravidão, a Inglaterra queria abolir, mas o Brasil dependia dos escravos na sua economia, então o império colocava navios no litoral que tinham a missão de interceptar navios negreiros para acabar com o comércio de escravos, mas elas nunca saiam, era somente “para inglês ver”.

Muitos estão perdendo valores e tornando-se fúteis, são personalidades frágeis propagando opiniões para indivíduos fúteis, a coisa toda está entornando cada vez mais e sem sinais de que vai parar, mas onde isto está nos levando?

Paulo C. Andrighe

Sou um admirador das letras, da literatura e me apropriando da canção Aquarela, interpretada por Toquinho, onde com um lápis, um papel e muita simplicidade, tudo é possível com a imaginação.

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