E o pobre do gato não tem culpa nenhuma
Sabe aquele dia que você acorda bem cedinho e ao abrir os olhos, escuta uma chuva forte que com certeza, vai encharcar até a alma, já dá pra sentir que o dia vai ser complicado, ao se levantar não encontra o chinelo, ele estava ali ao lado da cama, eles sumiram e depois de rastejar pelo chão finalmente o encontra, ao tentar calçá-lo se atrapalha com as tiras e quase cai, para ajudar ainda derruba tudo o que estava em cima do criado-mudo.
Mas a vida precisa seguir adiante e ao entrar no banheiro, quase escorrega porque a torneira ficou pingando e o piso está todo molhado, o pé desliza na água e ao tentar se firmar no chão sente uma fisgada no tornozelo, ao levantar a cabeça enquanto escova os dentes acerta em cheio a testa na porta do armário aéreo, no reflexo do susto, se vira rápido demais e escorrega de novo no piso liso, ao tentar se apoiar, acaba derrubando tudo o que estava sobre a pia, vários itens vão parar no chão do banheiro e bendita escova de dentes foi parar dentro do vaso sanitário que estava aberto, ao começar a caminhar percebe fisgada no tornozelo de quando escorregou.
O mais curioso e tenso é que ainda não se passaram nem vinte minutos desde que abriu os olhos e as próximas vinte horas prometem ser fora do comum.
O caos está instalado e existe apenas dois únicos caminhos possíveis a serem considerados, é tirar o pé do acelerador ou chutar o balde e mandar ver.
O primeiro é desacelerar, respirar fundo e atravessar este período delicado com calma ou o segundo caminho que é seguir em frente no modo “tiro, dedo no olho e confusão”, com grandes chances de tudo dar errado e inclusive de bater o carro ou prender o dedo na porta ao fechar, levar um tombo em uma rua lotada, ser atingido por um raio, derramar café quente no colo, quem sabe a caneta estourar em cima de documentos importantes, derramar molho vermelho sobre a roupa durante o almoço, vai que um passarinho desaforado atira sua caquinha sobre cabeça, tomara que seja de um passarinho mesmo e não um elefante voador, porque às vezes, tudo pode mesmo acontecer.
E como desgraça pouca é bobagem, tomara que ninguém resolva se ofender e descontar o próprio mau humor, porque o outro também pode estar em um dia ruim e com toda a força do mundo revidar com agressões não verbais, tomara que você por impulso não retribua na mesma moeda, vai que justamente nesse dia o pneu resolve furar em uma rua movimentada e sem local para estacionar, vai que a tela do celular resolva trincar sem nem ter caído, quem sabe um tropeço e um tombo com o nariz ralado, com um potencial infinito de acontecer várias pequenas tragédias, tudo isso somado à incerteza de conseguir chegar vivo ou pelo menos inteiro, ao final das vinte horas que ainda restam ser enfrentadas.
É preciso desacelerar de tudo até que essa nuvem sombria que insiste em pairar sobre a cabeça, resolva seguir seu caminho e dificultar a vida de outro azarado.
Tomara que o discernimento aflore e que em hipótese alguma, surja a vontade de revidar as ofensas recebidas, nem contra sim mesmo ao alimentar essa raiva desmedida e este é justamente o problema, de alimentar ainda mais essa nuvem de azar, porque é disto que o capiroto vive, de tropeços que alimentam o caos e que mantém viva essa maré de momentos ruins.
É preciso quebrar esse ciclo e sair dessa fase ruim antes que ela leve a melhor, é preciso pisar no freio da angústia que alimenta essa ansiedade, porque as farpas e faíscas já estão à flor da pele, cabe a você respirar e repensar sobre esse caos, da necessidade de calma e discernimento para atravessar essa tempestade antes que o fogo da raiva tome conta e o destempero da impulsividade passe a comandar.
Com serenidade será possível encontrar a clareza que se busca, por isso, peça ao Criador paz, orientação e segure-se na promessa contida na Bíblia Sagrada (NVI), em Isaías 41:10, que diz “Por isso não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; Eu o segurarei com a minha mão direita vitoriosa.”
Paulo C. Andrighe



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