Embora seja errado, muitos insistem em fazer
Bem lá no fundo todos carregamos um pouco de falso moralismo, quando ninguém está olhando certos deslizes parecem mais fáceis de justificar ou simplesmente são ignorados, todos sabemos o que é certo, temos consciência do que não se deve fazer, mas em alguns momentos a flexibilidade se impõe e abrirmos mão de certos princípios e as vezes se faz necessário para que o mundo simplesmente não pare de girar.
Existe uma luta interna constante para respeitar limites morais, éticos, sociais e um esforço contínuo para agir de acordo com o que é certo, de assumir responsabilidades e cumprir com compromissos, no entanto o fato é que tudo aquilo que nos é imposto tende a gerar resistência.
Seja de forma inconsciente ou sem admitir plenamente, tende-se a adotar um olhar mais tolerante em relação às próprias ações e para aqueles que nos são mais próximos, mas infelizmente com outros, espera-se o cumprimento rigoroso das regras, na integra e sem concessões.
No fim das contas não parece tão grave cutucar o nariz quando ninguém está vendo e mentirinhas podem até ajudar a resolver situações, o verdadeiro problema não está em cometer pequenas transgressões, mas em exigir perfeccionismo dos outros, como do vizinho que por
desatenção não varreu direito a sua própria calçada.
Respeitar o limite de velocidade só vale mesmo perto dos radares.
Atravessar a rua pode ser feita em qualquer lugar menos na faixa de pedestres.
Beber algumas e garantir que dá pra dirigir é quase um mantra.
A tampa da caneta que serve para tampar as vira instrumento para coçar o ouvido.
No avião ou no cinema as poltronas são numeradas, mesmo assim há uma corrida para entrar primeiro, como se a pressa garantisse vantagem.
Diz que admira profundamente alguém, mas nunca encontrou tempo para um simples café e uma conversa de dez minutos.
É sentir uma dorzinha ou desconforto e a única solução que existe é consultar o google.
Fala com facilidade que é um ser de luz e que tem o coração aberto é fácil, mas não aceita o convívio entre o filho e seu amigo gay pela preocupação com o que os outros vão falar.
Estacionar o veículo em vaga de idosos ou gestantes e ter a justificativa válida de que é somente por pouco tempo.
Fazer piadas com orientação sexual, nacionalidade, aparência física ou religião com a argumentação de que é apenas uma “brincadeira inocente”.
Defende o meio ambiente com paixão, mas joga o lixo pela janela do carro ou por cima do murro no quintal do vizinho.
Critica com facilidade a maneira como os outros falam ou escrevem, mas com seus amigos solta os mesmos deslizes.
Falhas acontecem o tempo todo, algumas são involuntárias e outras cometidas com plena intenção, estas podem causar danos visíveis ou simplesmente passar despercebidas, o verdadeiro perigo surge quando essas pequenas falhas começam a ser transmitidas como se fossem comportamentos corretos, ensinadas e repetidas como normas aceitáveis, nesse ponto o problema deixa de ser apenas do presente e acaba sendo repassado para às próximas gerações, que herdam os erros e também a responsabilidade de corrigi-los.
Os erros geralmente têm duas origens, que são a falta de conhecimento por ausência de informação e a mais grave que é o descaso, o desinteresse em fazer o que é certo, pequenas infrações se tornam comuns porque no dia a dia, tudo parece mais urgente do que agir corretamente, onde a próxima tarefa ou compromisso, sempre é mais importante do que a responsabilidade do momento agora, assim cria-se um efeito dominó contínuo, acelerado, onde acreditamos estar no controle do tempo quando na verdade somos apenas levados por ele.
Nossa sociedade, como um todo, vem perdendo a capacidade de exercer o julgamento de consciência e de refletir sobre o que é correto, ético e responsável, não sobra mais tempo para considerar o outro, pois esse processo exige pausa e atenção, luxos que parecem cada vez mais escassos. Assim, somos obrigados a fazer uma escolha de atropelar ou ser atropelados e essa decisão, ainda que inconsciente já está sendo tomada todos os dias.
Paulo C. Andrighe
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