Eu, você, eles e nossos cacoetes diários da vida
As vezes o inusitado nos prega algumas situações que podem ser cômicas ou trágicas, talvez um pouco dos dois, fato é que todos carregamos alguns tiques e manias, alguns mais sutis e outros mais evidentes, são bardas e manias que carregamos pela vida afora.
Durante uma reunião para finalizar uma operação de negócios, conheci aquela que seria a minha interlocutora nesta negociação, uma mulher de postura altiva, personalidade firme e que demonstrava uma expressão de gentileza e simpatia, mas o fator que se mostrou curioso é que durante nossa conversa, por várias vezes ela batia a ponta da unha no cinto que usava, produzindo um som ritmado, aquele som de téc, téc, téc, que por inúmeras vezes interrompia o silêncio entre uma fala e outra, um téc se ouvia, mais um téc, outro téc e assim surgiram vários técs, que volta e meia quebravam o silêncio e marcavam o compasso da conversa.
O problema é que, visivelmente apenas eu percebia aquele téc insistente ou talvez, fosse só eu que estava me incomodando téc com o bendito som que ao estalar parecia um pássaro téc batendo o bico no vidro da janela.
Meu desconforto estava em tentar manter o foco téc, admito que estava me dispersando e meu pensamento ficava na expectativa do próximo téc, enquanto isso meus olhos permaneciam fixos nela téc porque sabia que para continuar e ter sucesso seria obrigatório téc não me dispersar enquanto continuávamos a nossa conversa téc, eu não sabia se deveria demonstrar para ela que estava perdendo a concentração téc e o rumo do diálogo, de verdade mesmo eu queria era rir, téc mas a educação insistia em me segurar.
Quem nunca teve um desses tiques e que justamente naquele dia, resolveu ganhar relevância e te acompanhar o dia todo? Quem nunca se pegou chupando o canto da boca, virando o cabeça para o lado, piscando demais, coçando a cabeça sem parar, batucando a caneta na xícara de café, assoviando por qualquer motivo, mexendo no nariz ou puxando a orelha sem perceber?
Às vezes não é nenhum problema sério, apenas naquele dia deu vontade de fazer téc, possivelmente para ela o som parecia até agradável ou quem sabe e bem provável que ela nem estava percebendo o som, talvez fosse só uma forma inconsciente de relaxar um pouco ou como se diz por aí, apenas dando um “ar pra mente”.
Estar ansioso ou nervoso com situações mais complexas podem despertar gatilhos como o de roer as unhas, pigarrear ou fazer caretas, são formas do corpo reagir a situações estressantes, esses gestos ou movimentos são em sua maioria involuntários e tentam de algum modo sinalizar que se faz necessário buscar aliviar a tensão, distrair a mente e no fim, o que realmente se busca é um simples copo d’água, alguns minutos de silêncio e a serenidade necessária para desacelerar a alma.
Reza os ditos populares e as sábias vovós confirmam que colocar uma folha de alface dentro do travesseiro por sete dias cura o nervosismo, mas às vezes basta avisar a pessoa, pois em tempos tão tensos e acelerados, em que viver estressado parece tão natural quanto respirar, quem sabe só perguntar “por que você está fazendo esse téc ao bater a unha em seu cinto?” já pode aliviar muita coisa e até trazer um pouco de leveza ao momento.
Paulo C. Andrighe



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