O espetáculo e o papel da balinha
O conhecimento popular que foi transmitido de geração em geração carrega verdades que independentemente da época, mantêm sua força e simplicidade, um desses ditos em que o autor é desconhecido, afirma que “Por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento”, ele se mostra bastante oportuno para a situação que compartilho nestas despretensiosas linhas.
É quase certo que você já tenha presenciado algo parecido, porque esses deslizes são comuns, mas curiosamente parecem ser sempre os outros que os cometem, nunca nós.
Uma mulher de meia-idade surgiu em um carro cujo ronco do motor por si só já impunha respeito, com um vestido elegante, batom marcante, a bolsa lhe mostrava personalidade e o cabelo impecável compunham a cena em perfeita harmonia, como se costuma dizer ali com segurança tudo ornava, sobre um salto vermelho com muitos centímetros de altura, ela era a síntese da beleza e da elegância, impossível não olhar, fosse por desejo, admiração ou até inveja mesmo, o fato é que seu poder e imponência simplesmente a impediam de passar despercebida.
Mas a perfeição a traiu em um instante desastroso, tudo ruiu quando um detalhezinho lhe escapou das mãos, a grandiosidade do castelo de areia desmoronou no exato momento em que o inocente papel de bala foi arremessado por suas mãos pela janela do carro, assim em um gesto banal, desfazia-se toda a imagem meticulosamente construída para transmitir toda perfeição que fosse possível.
Viver de aparências é como atuar em um teatro, em um determinado momento, seja cedo ou tarde o espetáculo chega ao fim, impressionar é simples, mas manter o status é o verdadeiro desafio, sorrir sempre e demonstrar boas intenções pode ser fácil, porém difícil é admitir as lágrimas que são derramadas enquanto se esta escondido no chuveiro, ser simpático é muito mais fácil do que parece, mas o essencial mesmo é permanecer leal.
A Bíblia Sagrada (NVI), em Provérbios 26:23, afirma que “Como uma camada de esmalte sobre um vaso de barro, os lábios amistosos podem ocultar um coração mau”, a reflexão do autor da frase revela que por mais bem construída que seja uma imagem, continua sendo um vaso de barro, que é frágil e apesar da aparência de resistência, ele pode se quebrar e se desfazer muito facilmente.
Construir um personagem faz parte da vida, afinal de contas é também por meio dele que moldamos nossa personalidade, ser sempre correto não é tarefa simples, mas é essencial vigiar antes de tudo nossas próprias ações e evitar principalmente os pequenos deslizes, pois basta um detalhe, quem sabe uma pequena balinha para que o vaso de barro se quebre e as máscaras caiam, revelando a verdadeira face.
Paulo C. Andrighe



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