Onde faltam heróis não surgem exércitos

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Super-heróis são nossas primeiras referências, conquistando nossa admiração ainda na infância, com eles aprendemos que o bem sempre triunfa, mesmo que o herói termine a batalha esgualepado e com a viola em cacos, ainda assim sairá vitorioso.

Os super-heróis existem para proteger e cuidar dos inocentes, mas nem sempre o final é tão feliz quanto nas histórias em quadrinhos, nossos primeiros heróis de verdade, aqueles que despertam em nós o desejo de dizer “quero ser igual a ele”, são nossos pais, avós, irmãos mais velhos, infelizmente chega um momento em que eles perdem o brilho aos nossos olhos e acabam em alguma gaveta, assim como se guarda antigas revistas em quadrinhos.

Com o tempo surgem outros super-heróis como Super-Homem, Batman, Homem-Aranha, Mulher-Maravilha e tantos outros que habitam o nosso imaginário através da ficção, eles nos encantam, inspiram e acompanham por um tempo, inevitavelmente eles também acabam superados, são aposentados e esquecidos em alguma gaveta qualquer.

O problema é que em algumas culturas, não se formam novos heróis para ocupar o vazio deixado quando aqueles que nos eram próximos perdem sua força simbólica e os heróis dos quadrinhos já não sustentam mais a fantasia de que no final o bem sempre vence.

Algumas culturas souberam investir na criação contínua de heróis para reforçar valores e manter viva a inspiração das massas, a cultura norte-americana por exemplo, identificou a necessidade de renovar suas referências simbólicas em um período de fragilidade nacional, após guerras perdidas e sucessivas crises econômicas, a moral coletiva estava abalada, esse cenário serviu como gatilho para a produção de novos heróis capazes de reacender o espírito de superação e pertencimento, foi assim que em meio à crise, surgiram figuras icônicas nos cinemas, como Rambo, Platoon, Star Wars, Top Gun, Robocop e mais uma infinidade de referências a serem seguidas, esses personagens não apenas entretinham, mas também transmitiam uma mensagem clara de que o bem sempre vence o mal e que é o “mocinho” que vence no final, foram símbolos criados para inspirar e moldar gerações.

Os heróis são referências fundamentais que enriquecem culturas e marcam gerações, eles contribuem de forma positiva para a formação de valores, servindo como espelhos de conduta, é natural que se admire o mocinho da história, pois ele representa coragem, compromisso, responsabilidade, espírito de equipe e acima de tudo, sensibilidade diante das injustiças e empatia pelos mais vulneráveis, quando esses valores são absorvidos, tornam-se pilares éticos que ajudam a moldar personalidades comprometidas com a proteção e o bem-estar do outro.

Mas afinal, quem são os verdadeiros super-heróis em nossa sociedade?

Quem são aqueles que merecem ser seguidos e que contribuem para a construção de bons exemplos?

Houveram tentativas em nossa sociedade de criar figuras heroicas, o “Vigilante Rodoviário”, na década de 1960 foi um dos primeiros a abrir esse caminho, mais tarde Ayrton Senna tornou-se um símbolo de inspiração, assim como muitos outros que também tinham potencial para se tornarem verdadeiros heróis nacionais, no entanto com o tempo essas figuras foram perdendo força na memória coletiva, o lado positivo é que pelo menos seus nomes continuam estampados em algumas salas de eventos e hotéis.

O problema está naqueles que conquistam visibilidade e popularidade como jogadores de futebol, músicos e inúmeros influenciadores que pouco influenciam, poucos entre eles realmente se dedicam a transmitir valores positivos ou em promover exemplos a serem seguidos, nos
faltam heróis, verdadeiros super-heróis capazes de ocupar o lugar simbólico que antes pertencia a pais e professores, vivemos em uma sociedade carente de heróis e os poucos que despontam pelo caminho frequentemente são esquecidos, pois nossa cultura valoriza pouco os bons exemplos, na maioria das vezes, seu reconhecimento se resume a nomes de ruas ou placas em praças, raros são os que ganham filmes bem produzidos ou séries que empolguem, o heroísmo não é digno de ser celebrado.

Os super-heróis despertam aprendizado, inspiram coragem e nobreza, na ausência deles, abre-se espaço para que qualquer idealista sem fundamento, uma coreografia vazia ou uma letra de música que exalta valores errados ganhem destaque e é uma pena que a heroica professora, que morreu queimada ao salvar crianças em um CMEI já esteja sendo esquecida, guardada em alguma gaveta do passado.

Paulo C. Andrighe

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Sou um admirador das letras, da literatura e me apropriando da canção Aquarela, interpretada por Toquinho, onde com um lápis, um papel e muita simplicidade, tudo é possível com a imaginação.

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