Os desencontros e a culpa do Junior

Aí você está “diboa”, olhando para a movimentação do horizonte urbano e do nada surgindo de inúmeras pessoas alguém te lasca um “Olha quem está aqui, meu ilustre amigo, como vai você meu consagrado? Mas espera aí, não está se lembrando de mim? Capaz, com tudo o que convivemos juntos, meu Deus, juro que não acredito que é você aqui comigo”, ele rindo aos quatro ventos e você revirando a cabeça, vasculhando os arquivos mais escondidos e obscuros, se desdobrando em abrir baús e gavetas e nada de lembrar quem é aquela pessoa, ele muito empolgado joga mais uma tacada pra contribuir com seu desconforto, “Lembra ou não lembra?” e sem escolhas é preciso ser rápido.

A situação já ficou constrangedora e não tem o que se fazer.

As alternativas são: “Não me diga. Você é … é…?”, e contar com a piedade da pessoa perceber que deu um lapso na memória ou vai na veia e lasca um “Desculpe, deve ser a idade que já bateu a porta, mas…”, maneira simpática de dizer que ferrou, mas existe a alternativa que vai se criar um diálogo de gato e rato, “Claro que estou me lembrando de você!”, seja o que Deus quiser e torcer para memória favorecer durante a perseguição.

Não querendo magoar a expectativa alheia, se inicia um embate de pesquisas na memória, crendo que o interlocutor irá favorecer com nomes, apelidos, locais, características, fatos mas o iluminado não ajuda e ri quase que a toa e você em um pânico sem tamanho, para amenizar o desconforto blefa, emenda frases genéricas na expectativa de se localizar no mundo, mas continua contribuindo com a conversa e chutando nada para lugar nenhum na expectativa de que numa noite de breu intenso uma vela se acenda.

Quinze minutos de conversa e desaparecer é o melhor recurso, fingir demência e sair correndo é o único movimento certeiro, resistir esta sendo inútil, tudo cada vez piora e como diria o Mussum, humorista e integrante do quarteto Os Trapalhões, é hora de “iscaferdersis”, mas num instante surge uma informação desencontrada naquela enxurrada de lapsos, nosso desconhecido contribuinte acrescenta a frase “é Junior, você é o cara, todos sempre disseram isso”, ele chamou você de Junior? Você não se chama Junior, ele confundiu você e já emendando “Precisamos nos ver mais, reunir a turma da faculdade, por hora até mais, abraços meu amigo, tchau Junior!”.

Acabou o sufoco e foi você o culpado.

As vezes dizer sim ou não é muito mais prudente, “as vezes” nos culpamos por problemas que não são nossos, a culpa é do Junior e por medo de magoar acabamos ganhando e aceitando problemas que não são nossos, a culpa era do Junior e na ânsia de sermos gentis, de sermos agradáveis nos colocamos em “arapucas” que não são nossas e não existiriam se tivéssemos respondido bem rápido: “tudo jóinha! Mas, quem é você?”.

As vezes se resolvêssemos pequenas coisas logo de inicio com pequenos movimentos e poucas palavras, nós não sofreríamos tanto lá na frente por problemas que se herda por simplesmente querer preservar o que não precisa ser salvo, como não sabemos o futuro e somente com o passar do tempo vai se compreender que o problema não era seu mas agora se faz parte dele.

Paulo C. Andrighe

Sou um admirador das letras, da literatura e me apropriando da canção Aquarela, interpretada por Toquinho, onde com um lápis, um papel e muita simplicidade, tudo é possível com a imaginação.

Publicar comentário

You May Have Missed