Rabiscar um livro é conversar com o autor

Para alguns é um mal hábito e já para outros é uma necessidade rabiscar os livros, meu problema de rabiscar começou nos primeiros anos da escola, em que pegava os livros da minha irmã que sempre esteve um ano à frente, tinha que apagar as anotações para que pudesse usar, mas sempre com a recomendação de “use lápis porque alguém pode precisar deste livro no próximo ano”.
Mas o que me deixa mais inconformado e carrego comigo este trauma de infância, pois me recordo de com todas as sílabas bem enfatizadas por uma professora, quando gritava “NÃO RISQUEM OS LIVROS”, era uma pena, porque nos livros mais interessantes e cheio de gravuras não se podia rabiscar, interagir ou simplesmente dar uma contribuição na interpretação.
Livros são uma abordagem, opinião ou uma visão do que o autor apresenta, quando se rabisca, sublinha ou faz anotações nas bordas da página, é uma interação, concordando ou discordando, mas contribuindo com aquele pensamento, a ideia que está mencionada naquelas linhas ganha um tom de discussão do assunto, é uma contribuição com o argumento do autor.
E para aqueles que interagem com livros, independente da forma, certeza que aquela história nunca será esquecida.
E como é bom interagir com os pensamentos de um livro, deixar o monólogo do autor ganhar ares de um diálogo com o leitor, bom mesmo é rever os rabiscos feitos em livros lidos há muito tempo, interessante é pegar um livro rabiscado de outros e tentar entender o motivo de riscos, sublinhados, chaves e asteriscos, do porquê de terem sido inclusos no diálogo com as páginas.
É necessário respeitar aqueles que reforçam a ideia de que rabiscar qualquer livro é macular o intocável e sem chance alguma dobrar o canto da folha como forma de marcar a página, sendo possível no máximo fazer uma dedicatória na página em branco que está disponível e provável tenha sido reservada para este disparate.
Meu maior sonho era ter uma biblioteca com muitos livros, fazer fotos com eles ao fundo ao estilo intelectual, mas os anos passaram e compreendo de forma diferente, tenho comigo que livros devem e precisam rodar, livro surrado é sinal de uso, é como pedras que depois de rolarem muito, perdem quinas e conseguem ir mais longe.
Então, “risque” à vontade, indiferente se a vida é uma obra prima ou um rascunho, o importante é melhorar ela a cada instante, ela precisa ser atualizada constantemente em uma nova versão revisada.
E aos livros sempre passe eles adiante com rabiscos e interações só para que o novo leitor fique encucado em saber o que é que o autor e quem interagiu estavam proseando.

Paulo C. Andrighe

Sou um admirador das letras, da literatura e me apropriando da canção Aquarela, interpretada por Toquinho, onde com um lápis, um papel e muita simplicidade, tudo é possível com a imaginação.

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