É nos detalhes que se fazem as conquistas
Numa dessas tardes de um dia comum, tradicionalmente agitado e apressado como de costume para todos, caía uma chuvinha leve, dessas que parecem cansar a alma, estava no carro, parado num estacionamento e falando ao telefone, quando notei do outro lado da rua uma moça tentando, com certa dificuldade, estacionar seu carro, ia e voltava, numa dança complexa entre a vaga e a calçada, foi então que o “anjinho do bem” resolveu se manifestar, uma oportunidade perfeita para intervir e ajudar.
Era evidente que ela não tinha muita prática, o que convenhamos não é algo que desabona, pois todos começam exatamente desta forma, inclusive muita gente evita até tentar estacionar e mesmo sob pressão, nem cogita se arriscar a acertar a vaga “de primeira”.
Era o momento de ser solidário, me aproximei e com um sorriso, disse que iríamos resolver aquilo juntos, depois das devidas apresentações, começamos a missão e literalmente foi um verdadeiro passo a passo: “Esterça mais… Pode ir… Vira tudo… Agora pro outro lado… Isso, vai mais um pouco…”, e assim seguimos por alguns minutos, numa coreografia coordenada entre gestos e paciência, até que finalmente o carro estava perfeitamente estacionado.
Finalmente a Sra Rosane saiu do carro aliviada, cheia de agradecimentos, até um pouco exagerados e no embalo começou a se justificar, explicando por que não tinha conseguido sozinha, o que não havia necessidade, o importante é que tudo deu certo e saímos dali ambos satisfeitos com o resultado.
Entre sair do conforto do meu carro e concluir a tarefa, passaram-se no máximo uns dez minutos, um intervalo quase insignificante na escala da vida, ainda assim durante esse breve momento, pude notar alguns rostos claramente carregados de julgamento, expressando critica visíveis do tipo “barbeira” ou insinuando que ela devia ter comprado a carteira.
Espero sinceramente que a perfeição tenha sido muito solidária com estes ditadores de carteirinha, afinal criticar é fácil demais, não exige prática e nem empatia.
Afinal, o que se ganha ao praticar o bem ou ao oferecer pequenas gentilezas?
Absolutamente nada ou no máximo algo invisível.
Pequenas ações que nascem de forma espontânea fazem uma grande diferença, pois ajudar alguém torna o dia mais leve para quem recebe e principalmente para quem oferece.
Ajudar um idoso carregado de sacolas a atravessar a rua não transforma ninguém em celebridade, pequenos gestos não rendem audiência, curtidas ou manchetes, na verdade, só quem os pratica é capaz de sentir e valorizar a satisfação de ter sido útil, o mais certo é que proporcionam algo raro, uma sensação boa e silenciosa, daquelas que dinheiro nenhum no mundo pode comprar.
Conforme está escrito na Bíblia Sagrada (NVI), em Isaías 41:6: “… cada um ajuda o outro e diz a seu irmão: ‘Seja forte!’”. Em algum ponto da nossa jornada, deixamos de priorizar o próximo e passamos a agir movidos principalmente pela autopreservação, não se sabe exatamente quando isso aconteceu, mas talvez com pequenos gestos, ou quem sabe em milênio possamos redescobrir o caminho para um mundo mais humano.
Paulo C. Andrighe
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