Se até o Papa Bento XVI jogou a toalha

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O Papa Bento XVI renunciou em fevereiro de 2013 e desde então surgiram inúmeras teorias e especulações conspiratórias sobre os motivos que o levaram a essa decisão, o fato é que este homem com seus 95 anos, reconheceu os próprios limites e percebeu que não teria mais forças para sustentar o enorme peso de liderar a Igreja Católica, uma instituição que atravessou séculos e carrega consigo uma imensa responsabilidade espiritual e histórica.

Joseph Ratzinger, um homem simples de pequena estatura que decidiu jogar a toalha e deixar o cargo, reconhecendo que não conseguiria mais suportar o peso e a pressão de ser o pontífice da Igreja Católica, com humildade admitiu sua fragilidade diante da imensidão do rebanho que deveria guiar como líder e pastor.
Mas porque a maioria tem dificuldade de desistir ou simplesmente largar os fardos que já não é mais capaz de carregar?

Encerrar relacionamentos tóxicos, desistir daquele curso tão sonhado, abrir mão de uma viagem dos sonhos ou abandonar uma luta que nunca foi realmente nossa, são
exemplos de decisões que exigem coragem para abandonar, há momentos em que reconhecer que não temos mais forças ou condições de continuar é o único caminho para encerrar dores e sofrimentos, admitir que é hora de colocar um ponto final é um ato de sabedoria.

Vivemos em uma sociedade que nos impõe a resiliência como regra e que rotula a desistência como fraqueza, desde cedo somos condicionados a nunca parar de seguir em frente, a enxergar cada obstáculo ou adversidade como um desafio a ser superado e não como um possível sinal para recuar, independentemente da dificuldade, aprendemos que ela existe para ser vencida, sempre com a postura de um vencedor e cabeça erguida, no entanto, há batalhas que simplesmente não valem a pena, guerras inglórias que exigem menos insistência e mais reflexão.

Infelizmente o orgulho ainda é mais valorizado do que a lucidez, carregamos o peso de precisar provar ao mundo que somos fortes, mesmo quando tudo à nossa volta está em ruínas, fomos ensinados que desistir é sinal de fraqueza e que o verdadeiro valor está no herói que cai morto em combate e nunca naquele que desistiu, afinal o herói morto não ouve os julgamentos, enquanto o “covarde” que sobrevive precisa encarar as críticas e dos olhares que não compreendem a coragem que se precisa ter para desistir.

O fato é que todos temos medo de desistir e sermos taxados como fracassados, pois a linha que separa a persistência do medo de admitir que as forças se esgotaram é extremamente frágil, as vezes a insistência em continuar é pelo medo de precisar reconhecer que chegamos ao nosso limite.

E não há erro algum em desistir de certas batalhas, na verdade algumas jamais deveriam ter sido iniciadas, se a razão fosse maior que a emoção, muitos casamentos não teriam chegado ao fim, amizades poderiam durar uma vida inteira, empregos resistiriam a divergências tolas e incontáveis conflitos seriam evitados, as vezes um instante de reflexão antes da ação pouparia dores desnecessárias e cicatrizes profundas.

Às vezes, desejamos tanto possuir algo que nos empenhamos para conquistá-lo, mas quando finalmente o alcançamos, percebemos o peso que vem junto, o carro dos sonhos chega, mas traz consigo o alto custo de mantê-lo, a casa desejada é um verdadeiro palácio, mas falta mobília e pessoas para preenchê-la, o cargo tão almejado vem acompanhado da responsabilidade de liderar pessoas, a obsessão em ter pode nos cegar e nos fazer esquecer que cada conquista carrega consigo o dever de sustentar o que foi alcançado, o fardo a ser carregado faz parte da conquista.

Admitir que a melhor escolha é desistir de algo é um gesto de humildade e acima de tudo, de autopreservação, reconhecer a própria limitação diante de algo maior do que se pode controlar é um sinal de sabedoria e não de fraqueza, aceitar a perda de certas batalhas ou reconhecer derrotas significa compreender que se tentou, que às vezes, seguir adiante não vale a pena e é preferível sair de cabeça erguida, antes que restem apenas dor e arrependimento.

Paulo C. Andrighe

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Sou um admirador das letras, da literatura e me apropriando da canção Aquarela, interpretada por Toquinho, onde com um lápis, um papel e muita simplicidade, tudo é possível com a imaginação.

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