Pessoas iguais a declaração do imposto de renda
A grande verdade é que todos nós somos complicados, cheios de manias, bloqueios e particularidades, uns mais, outros menos, mas cada um à sua maneira, muitas vezes, nossas inseguranças erguem barreiras como forma de proteção e essa complexidade de dificuldades que vamos construindo acaba dificultando nossas relações sociais e afetivas, nesses momentos aquela pessoa considerada “difícil” reúne coragem, não para se aproximar, mas para se proteger ainda mais e assim, pouco a pouco ela se distancia, mergulhando cada vez mais fundo em seu próprio mundo.
Lidar com certas pessoas é como fazer a declaração do imposto de renda, em teoria é simples, mas a complexidade vai ganhando proporção e logo tudo parece difícil demais, sabendo o quanto pode ser penoso, evitamos encarar e deixamos de lado, é exatamente assim que tratamos as chamadas “pessoas difíceis”, não queremos o trabalho de enfrentá-las, de entendê-las e então optamos pela distância, o que só reforça o isolamento delas.
Desta forma as pessoas complicadas e que são parecidas com uma declaração do imposto de renda, acabam virando um incômodo somado a um custo emocional, onde a solução mais fácil parece ser terceirizar, empurrar para que outra pessoa resolva, repassamos simplesmente para não se perder tempo.
Esse hábito de lavar as mãos e transferir o problema para os outros faz com que possamos nos isentar, reduzimos ainda mais as chances dessas pessoas encontrarem alguém disposto a ajudá-las e a saírem de seus próprios limbos. Cada afastamento contribui para aprofundar o isolamento e dificultar qualquer possibilidade de resgate.
Quando alguém é considerado difícil ou emocionalmente instável, é quase certo que carrega feridas profundas e inseguranças não resolvidas, isso a torna menos flexível e muitas vezes áspera com o que está ao seu redor, o que ela não percebe ou é possível que prefira não enxergar, é que costuma ser ainda mais intolerante consigo mesma do que com os outros.
No fim das contas ela é sua primeira e maior vítima, já que vive sob o peso de suas próprias exigências, sofre por ter que conviver consigo mesma o tempo todo, quase sempre isolada, distante de tudo e de todos.
A verdade é que essas pessoas precisam de ajuda, de muita paciência, tolerância e acima de tudo muita compreensão, elas desejam ser percebidas do seu próprio jeito, com suas manias, contradições e até seus traços de narcisismo, e mesmo que não seja possível enfrentar ou mudar seus impulsos diretamente, não custa tentar ajudar, pequenos gestos de afeto, por menores que sejam podem suavizar, minimizando a dor que carregam por dentro.
Assim como acontece com a declaração do imposto de renda, tentar compreender uma pessoa difícil não é fácil, quem sabe apresentar outros pontos de vista podem ser úteis, o ideal é evitar críticas excessivas, posturas incisivas e é melhor não ser “crica” demais, se solidarizar porque se não for possível ajudar, o melhor é não atrapalhar e muito menos se atravessar.
Afinal, entrar em confronto com alguém difícil é como bater de frente com outro teimoso, vira uma disputa de teimosias que não levam a lugar nenhum, teimar com teimoso é muita teimosia.
Paulo C. Andrighe
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