Tem que chacoalhar para poder acordar
Há alguns anos plantei uma trepadeira que deveria compor um pergolado, junto a outros ornamentos planejados para completar o fundo do quintal, tudo estava pensado nos mínimos detalhes, mas por motivos que até hoje desconheço, a tal trepadeira não trepou, não tomou rumo, nem alastrou seus ramos sobre o pergolado e com isso, partes do projeto também ficaram pelo caminho.
Em num dia iluminado relatei o fato com minha mãe e ela sem hesitar, respondeu “Bate nela, às vezes precisa acordar”, surpreso com aquela frase tão clara e exata, pedi que me explicasse, então contou que, quando era pequena, seu pai costumava bater em algumas parreiras ao final do inverno, para que despertassem e iniciassem a produção de uvas, afinal, era tempo de encher as pipas de vinho.
E não é que poderia dar certo? Lá fui eu “acordar” a bela trepadeira adormecida, enquanto a sacudia, mexendo em seus poucos ramos e inclusive fazendo cair algumas folhas que já estava com cara de que em breve iriam se desprender, percebi que aquelas sacolejadas se pareciam muito com as balançadas que a vida nos proporciona, de abalos que nos forçam a despertar e a encontrar novos rumos.
Há situações que desorganizam nossa vida e muitas vezes é preciso sair de buracos que parecem quase intransponíveis, em certos momentos as portas se fecham e os duros golpes da vida abrem feridas que insistem em não sarar, em outros, são abalos que nos levam a novas interpretações e é nesse novo ambiente que janelas se abrem, o importante é ter uma estrutura formada pelas pessoas que realmente acrescentam à nossa vida, pois será essa soma que irá facilitar e tornar possível enxergar o lado positivo do novo cenário.
Na Bíblia Sagrada (NVI), Salmo 119, versículo 71, está escrito: “Foi bom para mim ter sido castigado, para que aprendesse os teus decretos”, esse versículo traduz bem a ideia de que aprender exige esforço e quedas pelo caminho, de que andar de bicicleta é bom mas tombos foram necessários, para conseguirmos andar sobre nossas pernas o choro do bebê e os joelhos ralados tiveram um custo, que na vida toda conquista tem um preço que é pago com suor, tempo e às vezes, muitas lágrimas.
É fundamental compreender que as tempestades existem, mas não duram para sempre e que cedo ou tarde é o sol que prevalece, quando estamos sendo sacudidos e a angústia parece “de matar”, é preciso ter clareza de que depois da tormenta, virá a calmaria e com ela novas oportunidades e frutos a serem colhidos, que das tempestades que por vezes nos assolam, possamos rebrotar com o coração ainda mais iluminado do que no instante em que nelas adentramos.
Paulo C. Andrighe



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