Um pet amigo é um parceiro sem opinião

A cena foi pra lá de inusitada e até cômica, em que iria sair do papel uma prometida janta na casa de um amigo e enquanto se aguardavam os últimos convidados, enquanto os gritos esbravejados pela vizinha na casa ao lado enfatizava “vem logo Beto”, vários “para Beto”, inclusive uns “sai daqui Beto” e entre outras exclamações, afirmações e alguns berros que se somavam ao Beto, até que numa altura da conversa nosso anfitrião solta um “esse Beto sofre”, importante é que o problema é do Beto, em certo momento entra uma senhora pelo portão e o dono da festa sabendo que existia no ar o questionamento feito pela roda de amigos sobre o tal Beto, ele a indaga “mas cadê o Beto vizinha?” quando surge um vira lata caramelo esbaforido correndo pelo portão, tudo se explicou com a chegada triunfal do Beto.

Complexo mesmo seria se na vizinhança alguém que se chamasse Beto, para alguns é constrangedor; tanto é que até lei já foi proposta proibindo o uso de nomes humanos em animais, boato ou não, o problema está no fato de que muito daquilo que a política cria pouco se leva a sério.

Segundo as estatísticas, os pets abandonaram os quintais e conquistaram um lado no sofá na sala de TV da casa, estes sortudos conquistaram o direito a ter nome próprio e até nomes compostos, já que um filho na família merece muito mais que apenas carinho e atenção, onde alguns desde que não sejam vira latas puro sangue, tem direito a festa de aniversário, o fofo título de bebê, neném da mamãe, rações gourmet nos variados sabores e aromas, spa em hotéis e mais uma infinidade de mordomias.

Mas porque o Bidu agora atende pelo título de Luiz Otavio? Segundo as boas conversas, o que estamos vivenciando é uma modinha semelhante à época que pagode e samba tocavam 26 horas por dia no rádio, claro que com o passar do tempo mudou para outros ritmos, foi uma modinha, assim os nomes tiveram época em que só nasciam os Neymares, Leonardos ou os Enzos da vida, o motivo destes nomes era quando alguém do cinema despontava, um esportista que aflorava ou daquele cantor que era lindo de morrer.

Atualmente a vida enclausurada em apartamentos pequenos fez com que muitos que não suportam o silêncio, aderissem a pequenos integrantes para completar famílias, compostas por vezes com menos de dois integrantes.

O novo formato de família criou espaço para novos integrantes e estes têm uma variedade fora do comum de potenciais, que vão desde os tradicionais gatos e cachorros, abrindo caminho para os exóticos porquinhos, cobras, aranhas, pôneis, camaleões, galinhas, etc, etc, a indústria de rações para pets agradece este novo formato de comércio.

As pequenas famílias modernas já definiram que procriar não é uma opção, e feliz do pato que fez cara de dengo, ganhou um lar e agora tem nome de mordomo.

As crianças perderam espaço e animais ganharam perfis humanizados, é compreensível pois os custos com ração e veterinário são muito mais em conta que uma escola privada e um plano de saúde, já que um animal vive muito menos e por mais que como diz a mamãe ele só falta falar, certeza que se este animalzinho falasse seria mais um a perder direitos conquistados, assim como alguns humanos foram colocados de lado, o fato de não questionar ou mostrar opinião já favorece muito o relacionamento onde se busca um submisso e sem posicionamento para entreter a vida.

Estamos presenciando uma época diferente, onde valores e padrões de família divergem daquilo que foi formatado com o tempo, a novidade deste formato é que existem novos membros dentro da casa e estes substituíram a prole que perdeu este posto, filhos tomam tempo e exigem comprometimento, demandando uma vida inteira de convívio e os pets agora ocuparam estes postos, se esta troca compensa ou não, será necessário aguardar algumas gerações para perceber o resultado desta modinha.

Paulo C. Andrighe

Sou um admirador das letras, da literatura e me apropriando da canção Aquarela, interpretada por Toquinho, onde com um lápis, um papel e muita simplicidade, tudo é possível com a imaginação.

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