Vamos apedrejar quem escreve errado
A situação poderia até ser cômica, mas entendi como trágica, até porque achar graça desta cena seria acreditar que todos nascem sabendo e que não é através das vivências que o conhecimento é adquirido, uma senhora que estava a minha frente comenta para a moça do caixa do supermercado com uma lista de compras a mão “a empregada lá de casa é uma burra, pensa que ela escreveu “rinço” em vez de sabão em pó”.
Fui obrigado a me lembrar da situação já há décadas passadas em que com muito esforço consegui comprar dois LPs, certo que poucos vão saber o que é essa sigla, do “u dois” e do “gãns em roses” e que o senhor da loja gentilmente me explicou como era a pronúncia certa, ele deve estar rindo até hoje. E quem nunca cometeu um desatino linguístico ou um erro gramatical, se quem errou fosse apedrejado, com certeza eu não teria escrito essas despretensiosas linhas e nem você se tomando destas, até porque o preconceito linguístico se atende pela estranha palavra “bullying”, não sei o que é pior se a pronúncia ou a escrita, fato é que são agressões que fazem mal e deixam marcas doloridas.
Fico imaginando o sofrimento do Cebolinha da turma da Monica com a sua dificuldade por trocar letras, ele sim devia sofrer com olhares maldosos ou na pressão da dona Maria por não poder usar as palavras que aprendeu com a vida, com seu linguajar adquirido no dia a dia em sua lista de compras solicitadas pela “patroinha”, não é fácil acompanhar a velocidade da modernidade gramatical que mais exclui do que agrega.
O “pobrema” é que tem muitas palavras novas, muito “internetiqueis”, uma infinidade de palavras estrangeiras adotadas no dicionário tupiniquim que são diluídas entre dialetos e conhecimentos empíricos, é margem para os oportunistas que ficam com o celular a mão para conquistar “jóinhas” em cima de qualquer deslize, sejam estes relevantes ou até mesmo interpretativos, o ruim é que a conquista destes míseros likes vem de outros que tem menos conhecimento ainda, que de plantão ficam à espreita para satirizar aquilo que precisa ser interpretado e não hostilizado, certo é que banalizar o alheio é muito mais simples.
É pena que neste ‘brainstorming” de recursos as pessoas estejam mais interessadas em vulgarizar aquilo que muitas vezes nem elas sabem o que realmente é. E antes que me apedrejem em praça pública pelos meus possíveis erros ou desatinos, se encontrar algum erro por aqui, juro que ele é apenas provocativo.
Sabias palavras foram proferidas pelo político norte americano Franklin Roosevelt, quando disse que “O único homem que não erra é aquele que nunca faz nada”. Melhorar os erros se arriscando do que hesitar e pelo receio das agulhadas perder a chance de se reinventar, quem sabe uma nova roda diferente surge na tentativa de aprender o novo.
A vida é uma enxurrada de oportunidades que com a tentativa de erros e acertos vamos nos lapidando, só se fica bom em algo quando existem falhas a serem melhoradas e a excelência é conquistada se evoluindo continuamente os erros, então se você puder contribuir com os seus mais próximos, faça, mas evite desgastes desnecessários já que as vezes o “pobema” não é seu e como dizia a profe de português “as pessoas não falam errado, não existe falar errado mas escrever errado é opcional”.
Paulo C. Andrighe
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